PSICÓLOGO ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO- C.R.P. 31341/5- TERAPIA DE CASAL E INDIVIDUAL- RUA ENGENHEIRO ANDRADE JÚNIOR 154- TATUAPÉ SÃO PAULO -SÃO PAULO TELS: 26921958 /93883296
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(veja meu video no youtube sobre o tema)
Impotência sexual psicológica e perda de ereção (sexualidade
como prazer ou avaliação?)
Este é um tema que a cada dia que passa se torna mais
intrigante, nebuloso, terrível e diria perigoso em qualquer consultório de
psicologia. Como muitos sabem minha formação e especialização se deu em terapia
de casal, mas pelo fato de ser homem, logo no início de minha carreira vários
homens me procuravam e até quase me pressionavam que tratasse dessa questão tão
delicada para o público masculino e também feminino. No início fiquei relutante
em aceitar tais casos, mas com a prática clínica descobri processos
extremamente complexos por detrás do problema da chamada disfunção erétil ou
impotência sexual. Geralmente este tipo de paciente já tentou sem sucesso
tratamento médico e drogas estimulantes da libido sexual, no desespero absoluto
se lembram de recorrer à psicoterapia. Outra coisa que sempre me impressionou é
que raramente atendi alguém acima de quarenta anos, todos praticamente são
jovens entre 18 e 30 anos, que raramente tinham um histórico de tabagismo ou
drogas. Obviamente esse fato vai totalmente contra o esperado, contrariando
todo um saber médico acerca de vitalidade ou questão hormonal. Não demorou
muito para eu perceber que algo estava muito errado nesse contexto. Nunca houve
também uma cronologia lógica de trauma na área sexual, quase todos os relatos
são difusos, sendo que os pacientes conseguiram ereção normal com a primeira
namorada ou segunda, sendo que na terceira ou adiante começou a aparecer o problema,
sem um motivo específico, excetuando alguns casos em que a parceira antes do
ato sexual já apontava que iria cobrar um ótimo desempenho do companheiro.
Mesmo em análise nunca houve fortes indícios de qualquer tipo de stress nessa
área, apenas alguns relatos que na primeira relação sexual fizeram com certa
pressa de medo dos pais chegarem a casa, mas nada mais contundente que a
psicologia pudesse detectar uma obstrução no desempenho normal da sexualidade.
Fatalmente me deparei com a resposta de que o problema estava
longe da esfera orgânica, mas, sobretudo num contexto de atitudes e valores
sociais e psicológicos. Todos os pacientes sempre relataram forte complexo de
inferioridade não em relação ao tamanho do pênis, mas sobre seu desempenho no
ato sexual. O pânico máximo sempre foi o
medo da crítica, mas não como rejeição, mas como uma espécie de exame
laboratorial que diria se o indivíduo é capaz ou não no ato de dar e receber
prazer. O ato sexual ou a mulher, que
deveria ser vista como o momento máximo de prazer daquele dia ou semana é
encarada como uma espécie de juiz, onde a pessoa terá que prestar uma espécie
de depoimento forçado, e como se sente culpado ou inseguro imita a prática que
vemos no noticiário diariamente, de suspeitos que dão as desculpas mais
ilusórias para não comparecerem perante a justiça. O sexo virou então um
vestibular dos mais difíceis, e como o candidato se acha despreparado,
fatalmente dará um jeito de sabotar sua presença.
Na prática o pânico desse paciente é o pronunciamento da
palavra motel por parte da companheira, sinônimo de terror perante a situação
de prova descrita. Mas cabe fazermos uma reflexão política e sociológica sobre
o tema. O início da era de FREUD se deu
no problema da repressão sexual daquela época, principalmente sobre as
mulheres, se desenvolveu então a doença psicológica chamada de histeria, uma
contenção de afetos e sexualidade que resultavam em gravíssimos sintomas
físicos como perda de movimentos, e até cegueira. Pois bem, estamos assistindo
ao mesmo fenômeno depois de dois séculos só que no lado invertido, na questão
masculina, assim sendo, a impotência sexual psíquica diz de um homem histérico,
reprimido em sua autoestima e valor próprio. Seria a hora da revanche?
Outro fenômeno que observo há tempos, é que nunca tive tantos pacientes homens
tendo de encarar uma traição feminina. O problema maior é que se tudo isso for
uma espécie de vingança social e inconsciente contra o patriarcado do passado,
o que restará é a mais absoluta solidão para ambos os sexos. Mas analisando a
esfera clínica do problema o caso até que é bem simples. Não há nenhuma
necessidade de tomografia computadorizada para alguém distinguir se tem uma
impotência orgânica ou psicológica, costumo orientar que o teste é o mais
ridículo de todos, ou seja, se o indivíduo consegue uma ereção na masturbação,
obviamente seu problema não é orgânico, mas, sobretudo quando se encontra ao
lado de alguém onde se incumbiu da tarefa de ter o máximo desempenho possível,
a situação de teste que venho descrevendo neste estudo. E como fica o lado da mulher nisso tudo? Também sempre observei
posturas totalmente antagônicas, ou a revolta e escárnio contra o parceiro que
não lhe realiza sexualmente, para não falar da desconfiança de uma possível
traição ou infidelidade, ou então uma postura absolutamente passiva perante o
caso, uma indulgência que só agrava o problema, é por isso que pontuo que
qualquer distúrbio sexual num relacionamento é total responsabilidade de ambas
as partes, quem não fizer essa confissão estará incorrendo no erro gravíssimo
da competição ou projeção de suas incapacidades perante o parceiro, isto vale
tanto para a impotência psicológica quanto para a frigidez feminina.
Notem que o problema da sexualidade há muito tempo foi tomado
por fatores de ordem política e social, a regra básica que desejo passar neste
breve estudo é que qualquer um que encarar a sexualidade como uma competição,
prova de fogo, desafio ou coisa similar, fatalmente poderá sofrer com o
distúrbio citado, é como a lei da física do empuxo de Archimedes, todo sólido
mergulhado num fluido retornará com a mesma força ou potência despendida. O
problema maior é que tudo isso teria de ser óbvio na mente de qualquer pessoa,
mas vejo exatamente o oposto, a pessoa desesperada para tentar provar uma
potência competitiva e não um prazer afetuoso perante a companheira. Mas o
leitor irá se perguntar se qualquer pessoa que tenha problema com sua
autoestima sofrerão de impotência sexual? A resposta depende da reação do
indivíduo perante sua auto-imagem. Num primeiro caso pode se desenvolver a
impotência ou perda da ereção, caso a atitude do indivíduo seja mais tímida ou
retraída, na segunda opção, onde o indivíduo tenha uma atitude mais agressiva
ou de desafio poderá ocorrer o que julgo que é o pólo oposto da impotência
sexual, a chamada perversão sexual, ou neurose obsessiva em relação ao sexo. O
perverso além de sua estrutura de caráter que moldou sua problemática necessita
da compulsão justamente para provar que não é um castrado no termo psicanalítico,
ou que mesmo tendo sérios problemas de estima, todos querem ver seu corpo ou
ter relações com o mesmo. Aliás, esses dois tipos já dão a tônica dos maiores
problemas da sexualidade nos dias atuais. Pode sem dúvida alguma haver uma
junção dos dois tipos, aquele sujeito que não consegue uma ereção justamente
por estar totalmente preso a fantasias sexuais de masturbação, que rechaçam o
ato sexual real, mas em todos os casos afirmo categoricamente a desconfiança da
pessoa em ser alguém realmente desejado ou querido por seu meio.
Como disse anteriormente, chega a ser irônico tal problema em
nosso tempo, justamente quando supostamente se venceu a barreira da moralidade
sexual, quando todos poderiam fazer sexo em demasia, assistimos o contrário,
fuga e medo perante o mesmo. Novamente insisto na questão social, que associou
tal prazer a uma escala de valor de disputa e competição. Infelizmente não temo
em dizer que para boa parte das pessoas, tanto homens como mulheres, o ato
sexual nem é visto mais como um prazer, mas como um tributo que temos de pagar
ou provar, é como a história de termos de comprar algo valioso apenas para não
ficarmos por baixo perante vizinhos ou amigos. Como na questão do casamento, a
sociedade abriu a porta há décadas para que os mais diversos vírus
contaminassem a essência da sexualidade, e obviamente milhares estão pagando o
preço. Com certeza seria amplamente criticado se não fornecesse neste texto
algumas dicas para enfrentar o problema. Pois bem, a primeira delas é
desconfiar de qualquer tipo de tratamento mirabolante, como aqueles que
surgiram nos anos setenta que estimulavam determinada posição, ou pressão da
cabeça do pênis para evitar a ejaculação precoce por exemplo. O tratamento deve
ser feito pelo próprio paciente, cabendo ao terapeuta o papel de uma espécie de
supervisor. O primeiro passo obviamente é descartar qualquer anomalia orgânica
que deve ser conferida pelo urologista. Identificada a questão de natureza
psíquica além de refazer a estima do sujeito devemos começar analisando seus
pensamentos conscientes e inconscientes sobre o tema. Sobre a questão de qual
posição sexual se deve começar a treinar para a superação do problema o quadro
é polêmico, pois além de depender de cada indivíduo, também devem ser
observadas as características físicas de cada um, como peso, idade, estatura. O
que costumo orientar pela prática clínica é que a posição clássica do homem por
cima da mulher será uma das mais difíceis de serem alcançadas na problemática
da impotência, pois além de ser uma posição onde o homem praticamente dá a
tônica do ato, entra o componente visual diretamente com a parceira, mais
difícil para pessoas tímidas ou retraídas. Claro que isto não pode ser
generalizado, mas a orientação é começar pelas carícias ou preliminares para
que sucessivamente o paciente conquiste etapas onde se sinta seguro para o ato
em si. Pode parecer simples demais, mas para quem sofre do problema é tão
complicado como dizer para o drogado abandonar seu vício, a terapia se
justifica basicamente por isso, apoio e perda de qualquer sentimento de
vergonha ou ameaça, fatores fulminantes no desempenho adequado da sexualidade.
Embora pareçam semelhantes temos de distinguir clinicamente a
impotência sexual psicológica da perda de ereção durante o ato. A primeira pode
ser definida como a ausência de libido antes mesmo do ato em si, ou então
ereção somente nas preliminares, sendo que a impotência irá ocorrer quando
advier a prova final da penetração como venho expondo neste estudo. A perda da
ereção durante o ato ou sua curta duração diz mais de características psíquicas
ou de personalidade do sujeito em questão. É incrível como há um paralelo entre
sexo e essas características citadas. Não raramente recebo pacientes com
disfunção erétil que começam falando abertamente do problema e vão aprofundando
a questão, mas logo em seguida sua fala vai se esvaindo caindo numa apatia ou
perda do assunto, é exatamente uma reprodução literal do que acontece em seu
ato sexual, o vigor dura segundos ou minutos, parecendo que sua energia sempre
se encontra esvaziada. O que acontece nestes casos é que a pessoa tem estímulo
e vontade para o ato sexual, mas, rapidamente pensamentos quase que totalmente
inconscientes invadem a psique bloqueando por completo a excitação ou dando
simplesmente uma mensagem que não serão bem sucedidos na relação. A síntese de
todo esse processo é que esse tipo de pessoa nunca acreditou que possa ser uma
verdadeira fonte de prazer ou excitação para o outro como disse no começo do
texto, sua desconfiança perante seu potencial erótico parece que permanece
quase que eterna, a despeito de todos os esforços despendidos para reverter tal
quadro, é algo absolutamente arrebatador e que tira completamente o foco sexual
da pessoa.
Temo honestamente pelo pior, ou as autoridades de saúde
pública começam a fazer algo relacionado ao problema, tipo pesquisa em larga
escala, palestras, grupos de discussões ou assistiremos em breve o risco de
suicídio de jovens motivados por essa problemática, aliás, muitos de meus
pacientes já relataram ter pensado nisso diversas vezes, em seu desespero
pessoal por se sentirem tolhidos de algo tão básico. Assim como na era de
FREUD, o fenômeno se torna da máxima gravidade quando determinada ideologia ou
estilo de vida compromete o inconsciente e aspectos elementares da natureza
humana. Se funções vitais se tornam bloqueadas devemos repensar se está valendo
a pena sangrar até a morte por valores tão deturpados ou que tiram o indivíduo
de seu eixo de satisfação ou prazer. A ação do poder público passa a ser vital,
pois o grande problema neste tipo de caso é a falta de estímulo e empenho desde
a terapia ou qualquer outro tratamento, podendo se comparar a casos onde a
pessoa tem câncer e se questiona se vale a pena o tratamento já que está fadada
a falecer, é exatamente esse pensamento que a pessoa que sofre de impotência
sexual psicológica nutre quase que diariamente. Vale lembrar até de uma antiga
profecia de FREUD, se não me engano em seu texto o futuro é uma ilusão, faz um
comentário acerca do socialismo, onde dizia que se extinguisse a competição
econômica a mesma migraria para a esfera sexual, pois bem, embora o socialismo
tenha derrocado, o que se assistiu foi uma reprodução literal do modelo
econômico de conflito e medo para toda a esfera da sexualidade, sendo que a
mesma se tornou um microcosmo de toda uma peça sócio-política engendrada há
séculos pela humanidade. O que se conquistou é mais uma área de medo e receio,
pior, no mais profundo da esfera privada e íntima de uma pessoa, obviamente a
conseqüência de tão nefasto processo será o incremento cada vez maior do
processo da solidão, que infelizmente parece ser o único seguro contra ter de
competir o tempo todo, seja nas relações econômicas ou sexuais. Seja o problema
da depressão ou sexualidade, temos de ter em mente que apenas uma medicação
jamais irá curar nossos mais profundos receios, sendo assim, é mister que em
terapia seja refeita toda a trajetória do sujeito que perdeu quase por completo
o ânimo ou estímulo, do contrário só estaremos reforçando estruturas neuróticas
bastante solidificadas, e não esquecendo que sexualidade sempre foi a
preocupação máxima de cada homem, e se o mesmo não conseguiu superar tal
problema que lhe consome horas de desespero, devemos levar em conta que a
problemática não apenas é séria, mas que irá demandar o máximo esforço do
terapeuta, tentando elaborar toda a resistência e em suma esse verdadeiro
enigma moderno no âmbito sexual.
SÃO PAULO 01 DE MARÇO DE 2011.